Psicóloga Mônica Zatta Tonial - Pato Branco/PR
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Luto e Ansiedade

Autor: Mônica Zatta Tonial,  Postado em:  domingo, 16 de janeiro de 2022  
 

 

 

O luto muda nosso corpo e nossa mente de maneira estranha. A capacidade cognitiva não é a única função cerebral que fica confusa. A ansiedade, quer seja novidade ou conhecida desde antes da perda, é um problema enorme no luto.

As sensações de ansiedade são normais para quem sobreviveu a uma perda ou a um trauma intenso. Durante o luto, o mundo inteiro pode parecer um lugar inseguro, que exige vigilância constante, procurando sinais de problemas, resguardando-se de mais perdas. Você ensaia o que faria se ficasse de novo diante de um trauma impensável.

Se você está lutando contra a ansiedade durante o luto, talvez tenha tentado se acalmar com pensamentos positivos, lembrando tudo que há de bom ao redor ou reafirmando a segurança da vida cotidiana. Mas essas coisas não funcionam quando você já viveu o improvável. Acidentes, mortes inesperadas, eventos horríveis, impensáveis... essas coisas acontecem. Conosco, comigo, com você. Ansiedade, luto são uma combinação perigosa. A vigilância constante pode parecer o único caminho. O perigo espreita em toda parte. A perda está sempre esperando. Você precisa se preparar.

O problema é que em vez de ajuda-lo a se sentir seguro, o medo perpétuo, cria uma vida estreita, difícil, dolorosa, que não é mais confiável. O futuro passa diante de nossos olhos em um fluxo de eventos horríveis. Não conseguimos dormir por causa da ansiedade, e a ansiedade piora porque não estamos dormindo. É uma roda gigante de temores, tentativas de racionalização e lembranças do que deu errado.

A ansiedade é exaustiva. É uma droga. A ansiedade é nitidamente ineficaz para administrar o risco e prever perigo. A maioria dos nossos medos nem se quer se realizam.

Se a ansiedade é tão ruim em prever a realidade, porque ficamos ansiosos? O que há na ansiedade que a faz parecer tão real, tão lógica e impossível de desligar?

Na verdade, nossa mente funciona imaginando situações perigosas. Somos programados para visualizar na segurança da mente coisas que não arriscaríamos com o corpo físico.

O cérebro é um mecanismo interno de sobrevivência através da resolução de problemas o que nos dá a sensação de estarmos seguros. Mas, depois de uma morte ou uma perda gigantesca, todo esse conceito de “segurança” vai por água abaixo.

Você não pode contar com antigos confortos de acreditar que é improvável que seus temores se realizem. Você não pode se apoiar no risco estatisticamente baixo de certas doenças ou acidentes acontecerem. Só porque viu seus familiares há meia hora não significa que eles ainda estejam bem agora. Quando a segurança básica do mundo já falhou com você, como é possível senti-la outra vez?

Não que a ansiedade esteja errada; ela só não é eficaz em criar a segurança que você procura. O negócio é o seguinte: não importa o que sua ansiedade diga, ensaiar o desastre não deixará você em segurança. Verificar repetidamente como estão as pessoas para garantir que elas ainda se encontram seguras jamais provocará um sentimento duradouro de segurança.

Como a ansiedade é um mecanismo de sobrevivência que descarrilhou, não adianta apenas querer parar com isso... se você negar seus temores, eles vão fazer mais barulho ainda. É difícil aplicar lógica em um sistema baseado no medo. Em vez de suprir os medos ou tentar freneticamente tornar seguro o mundo ao redor, existem outras formas que podem aumentar seu sentimento de segurança.

Lembre-se que a ansiedade é uma reação cerebral do sistema nervoso, é biológico. Portanto, cuide do seu organismo. Dormir, cuidar da alimentação, descansar, praticar atividade física, pode reduzir boa parte da ansiedade.

Praticar autoconfiança também pode ajudar muito neste momento. Mas, você pode se perguntar: “como ter autoconfiança se eu perdi de verdade?”. Em casos de acidente, suicídio, perda pré-natal etc., essa pergunta é bem pertinente. Mas o que não ajuda é se atormentar por toda a eternidade. Talvez você pudesse ter feito algo diferente. Talvez. E talvez você tenha feito o que podia com a informação que tinha naquela hora. O auto interrogatório não leva alugar algum.

Também temos a crença cultural de que nossos pensamentos criam a realidade. E, se passamos por alguma dificuldade é porque, de algum modo, nós provocamos. Se der algo errado, a culpa é minha. Você é capaz de muitas coisas, mas não tem tanto poder assim. Não pode manifestar morte, saúde, perda ou luto apenas com seu pensamento. Se pensamentos pudessem manter alguém em segurança, nenhum de nós estaria de luto. Se apenas pensamentos pudessem impedir doenças, sofrimentos, acidentes, nada disso existiria. O pensamento mágico, não controla a realidade. Use seu cérebro para imaginar um cenário diferente.

O remédio mais poderoso para a ansiedade, é reconhecer que ela existe. Reconhecer que está com medo de sofrer mais perdas, não é errado, não é vergonhoso... é humano.  Se pergunte o que está procurando neste momento, paz interior, conforto, afeto, um cochilo... se permita.

Como quase sempre acontece, não existe uma resposta correta. O importante é permitir se perguntar: “de que eu preciso agora, e qual é a melhor maneira de atender a essa necessidade?”. Nem sempre você vai conseguir o que precisa. Mas a prática de perguntar a si mesmo e partir para a ação com mais probabilidade de atender a essas necessidades, cria um sentimento de segurança no mundo.

Encare a si mesmo, especialmente as partes ansiosas, temerosas, aterrorizadas, com amor e respeito. Esse tipo de ansiedade é normal. É mais um modo como sua mente está tentando reorganizar o mundo depois da perda. Diga a verdade sobre seus temores. Pergunte. Ouça. Reaja. E acima de tudo saiba, que você merece seu amor e afeto tanto quanto qualquer outra pessoa no universo.

 



 


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